Evento internacional debate acesso à educação superior

A pesquisadora Catherine Millet gesticula durante a palestra. Em uma das mãos segura um microfone. Ela está de vestido cor roxa e usa cabelos curtos. Tem a pele bem clara e cerca de 50 anos

Iniciativas de acesso ao ensino superior foram discutidas no seminário “Pedagogias colaborativas e renovação de currículo como meio de diminuir GAPS do acesso à educação superior” realizado nesta terça-feira, (8), no Centro de Convenções da Unicamp. O evento é uma parceria da Pró-Reitoria de Graduação (PRG) e Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA)² em parceria com a GAPS Initiative que, em tradução livre, significa “Iniciativa para o Acesso Global ao Ensino Superior”. Trata-se de um grupo internacional de pesquisadores que participa de uma reunião anual de trabalho na própria Unicamp.

De acordo com a pró-reitora de Graduação, Eliana Amaral, as questões que precisam ser enfrentadas quando a universidade adota uma diversidade de formas de acesso são similares em vários países. O objetivo do seminário foi compartilhar as experiências internacionais que podem contribuir para a qualificação do ensino de graduação. “Nós estamos no momento de inclusão também do sistema de cotas, um processo que outros já enfrentaram e que modifica a população de estudantes na universidade”. Amaral destacou que a maior diversidade promove debates que avançam muito o conhecimento.

Sobre a Gaps Initiative, a pró-reitora disse que o grupo traz conceitos interessantes como por exemplo o da educação colaborativa, que pressupõe metodologias ativas de aprendizado, levando em consideração as experiências dos estudantes. Outra ideia é a da educação global, um dos pilares para a educação superior, segundo a Gaps.

Catherine Millet, responsável pelo comitê executivo da organização também destacou a preparação, acesso, progressão e conclusão da educação, além da educação inclusiva com melhorias nos currículos para que reflitam a diversidade. Millet disse que vários países estão tentando implantar ou ampliar ações afirmativas. “O mais importante é implementar, analisar o que foi atingido com aquele sistema e sempre rever as ações”.

Eliana Amaral aparece sentada, gesticulando e segurando um microfone. Ela veste uma blusa clara com flores vermelhas. Seus cabelos são loiros na altura do ombro

O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, deu uma palestra com dados gerais sobre a Unicamp, seus mecanismos de permanência e acesso à graduação e sobre o ProFIS – Programa de Formação Interdisciplinar Superior.

Knobel chamou a atenção para o fato da Universidade conseguir aprovar apenas cerca de 5% do total de estudantes que tentam ingressar por meio do vestibular e que esta parcela é formada majoritariamente por uma população de classe média ou classe média alta. Segundo ele, antes da implantação do ProFIS, foi realizada uma pesquisa junto às escolas da cidade de Campinas. Os dados mostravam que quase 70% das escolas públicas de Ensino Médio nunca haviam aprovado um estudante para os cursos da Unicamp.

Em retrospectiva, Knobel lembrou várias iniciativas da Unicamp para mudar o cenário, como as iniciativas pioneiras da Comvest – Comissão Permanente para os Vestibulares, como foi a exigência da redação na primeira fase, já no primeiro vestibular, em 1987. A preocupação de aumentar o acesso dos estudantes se intensificou a partir dos anos dois mil, disse o reitor, com a criação do PAAIS – Programa de Ação Afirmativa para Inclusão Social.

“O PAAIS foi pioneiro, mas seguimos com um problema, que proporcionalmente menos estudantes de escola pública se candidatam ao vestibular, na faixa de 30% dos candidatos”, observou. Para o reitor, o vestibular é um funil muito estreito, o que impacta muito fortemente o acesso à universidade, o que pode e precisa ser alterado.

Reitor Marcelo Knobel está de pé, com uma mão segura o microfone e o outro braço está estendido. ele veste um terno e gravata azuis

Knobel afirmou ainda que o perfil de estudantes que ingressam no ProFIS é muito diferente do perfil de alunos que ingressam via vestibular, como o acesso maior de pretos e pardos e da população com renda familiar per capita de menos de 3 salários mínimos. Mais de 80% dos estudantes do programa também representam a primeira geração da família na universidade.

Questionado sobre as razões que levaram a Unicamp a procurar mudanças no acesso, Knobel lembrou a questão das cotas étnico-raciais, tema que irá para votação no Conselho Universitário no próximo dia 21 de novembro. “A Unicamp como instituição pública é financiada por toda a sociedade, portanto não faz sentido atender somente a determinada parcela. Além do mais, nós só ganhamos com a diversidade que é oxigênio para a educação de qualidade que se alimenta de ideias e perspectivas novas”.

No período da tarde o evento discutiu o papel dos professores universitários na ampliação do aprendizado global e inclusivo, com moderação da ex-secretária geral da Associação Internacional de Universidades (IAU, na sigla em inglês) e atual membro do Conselho Executivo da GAPS Eva Egron-Polak.

 

Autora
Patrícia Lauretti

Fotos
Antonio Scarpinetti

Edição de imagem
Paulo Cavalheri

Original publicado no Portal UNICAMP

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