Avaliação mediadora é desafio para a aprendizagem

“Corrigir não é avaliar, interpretar é avaliar”. “Um número (nota) não me permite interpretar e compreender a aprendizagem”. “Falta na prova significa ausência na prova e não zero. Não é investigar o que o aluno aprendeu”. As frases da educadora e conferencista Jussara Hoffmann que, para muitos, podem parecer provocações, fornecem os pressupostos para o entendimento do conceito do qual ela é especialista: avaliação mediadora. O assunto foi abordado pela palestrante no segundo Encontro de Aperfeiçoamento do primeiro semestre deste ano, aos alunos da Unicamp que integram os programas PAD/PED (Programa de Apoio Didático e do Programa de Estágio Docente). Realizado na tarde de terça-feira, 20, e organizado pelo Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA2), órgão da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), o encontro teve como tema “Avaliação em sala de aula: conflitos e alternativas”.

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Jussara Hoffmann e os desafios da avaliação mediadora

“A questão da avaliação é um tema recorrente para os alunos”, ressaltou o coordenador do (EA2) professor Sérgio Leite, da Faculdade de Educação (FE). Os alunos PAD/PED já trabalham com os docentes e a expectativa é que sejam professores no futuro, segundo o coordenador. Jussara Hoffmann é fundadora e diretora da Editora Mediação, do Rio Grande do Sul, especializada em publicações para professores. Tem hoje doze livros de sua autoria sobre avaliação. A palestra foi assistida por cerca de 800 alunos, entre os que compareceram ao Centro de Convenções, e os que assistiram a transmissão online nos campi de Limeira e Piracicaba.

De acordo com a conferencista, a disciplina avaliação praticamente inexiste nos cursos de pedagogia brasileiros. Ela afirma que “mediação é diálogo intelectual” e que, para compreender o pensamento de um aluno, é preciso se aproximar dele, não negar a história do sujeito. Em relação às notas atribuídas aos estudantes, Jussara salienta que “o problema da análise quantitativa é a arbitrariedade que confere poder ao professor. Não sou contra a nota, mas números não me falam das pessoas e nem do que elas estão aprendendo”, reiterou. Na entrevista ao Portal Unicamp a conferencista falou mais sobre o tema:

Portal UnicampQuais são as principais dificuldades que os professores encontram para propor a avaliação de alunos?
Jussara Hoffmann: Seria interessante falarmos das dificuldades no ensino superior. A teoria evoluiu bastante para uma concepção de acompanhamento e acompanhamento individual de alunos e toda uma intervenção pedagógica adequada, apoio aos alunos. Essa teoria tem por fundamentos os alicerces teóricos da pedagogia, da educação, filosofia, enfim várias ciências. A grande dificuldade no ensino superior é que este professor é professor, mas não tem a formação pedagógica. Ele sabe muito seu conteúdo, tem grande domínio teórico sobre o que ele ensina e não sobre como ensinar ou sobre como o aluno aprende o que ele ensina. Este mesmo docente é quem vai formar os professores de educação básica do ensino médio e do ensino fundamental. Então há uma preocupação hoje em evoluir também no ensino superior e essa reflexão sobre a avaliação formativa mediadora que está mais implementada em países do mundo inteiro. Nós somos um dos últimos países do mundo que reprovam na educação básica, por exemplo, e na contrapartida há uma prática de não reprovação no ensino superior. Nos outros países ocorre exatamente o inverso. Tudo isso é decorrente de concepções que ainda temos vigentes como a concepção classificatória, reprovativa, o predomínio do professor que dá uma aula e não o que organiza uma situação de aprendizagem. Aquele professor que dá uma aula e depois dá uma prova ao final e passa para outro conteúdo.

Portal da Unicamp: …e não está tão preocupado com o processo de avaliação?
Jussara Hoffmann: Não está na verdade preocupado com o processo de aprendizagem, avaliar é estar preocupado com o processo de aprendizagem e ele está muito mais preocupado com o processo de ensino, com seu planejamento, sua metodologia e não com a estratégia pedagógica que seja adequada ao interesse e a necessidade daquele aluno. Então o professor vai em frente, mesmo que aquele aluno fique para trás. O grande entrave para os avanços em avaliação é a falta de fundamentação teórica dos educadores nesta área. O professor de medicina, por exemplo, também deveria ter essa fundamentação. Nosso grande problema ainda é a falta de fundamentação teórica, de leitura e de formação na área, por mais que a teoria de avaliação formativa date de 50 anos atrás, nós ainda estamos engatinhando.

Fonte ASCOM

20/05/2014 – 16:46

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