Acolher é um verbo que, em sua forma transitiva direta, significa receber, amparar, apoiar. É justamente essa a proposta da Pró-Reitoria de Graduação (PRG) da Unicamp, através do Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem(EA)2, ao realizar pelo quarto ano consecutivo a primeira etapa do Programa de Acolhimento de Novos Docentes. Essa atividade ocorreu nesta segunda-feira (22) no Hotel Solar das Andorinhas, Jaguariúna, a pouco quilômetros do campus universitário. A reunião prossegue até quarta-feira (24).
O pró-reitor de Graduação da Unicamp, Luís Alberto Magna, recepcionou neste ano 43 novos docentes, que fizeram concurso público no último semestre de 2015. Em sua opinião, esse é o principal programa da sua Pró-Reitoria. “É que existe uma atuação mais direta dos órgãos da Universidade com os nossos docentes. Aqui explicaremos o que de fato eles precisam saber, como evoluir na carreira, os seus benefícios sociais, o que ele precisam fazer para conhecer o perfil do seu aluno”, salientou.
O coordenador do (EA)2, professor Sérgio Leite, comentou que o (EA)2 é uma instância que tem como função propor políticas para a Universidade na área de graduação e que o acolhimento aos docentes é uma etapa relevante e de grande repercussão. “Passamos três dias conversando sobre temas do interesse dos professores, inclusive a questão pedagógica”, afirmou. “Nossa proposta é o acolhimento nesse momento e depois um curso de planejamento de ensino, que não é obrigatório, mas que incentivamos muito.”
Palestra
A professora Beatriz Jansen Ferreira, coordenadora de projetos de (EA)2 da Unicamp, contou aos participantes que a ideia de ter um projeto de acolhimento envolve muito mais do que uma recepção e que por isso ele tem o nome de acolhimento. “Envolve trazer novos colegas para uma perspectiva que defendemos – a qualificação cada vez maior e constante das atividades de ensino na graduação”, ressaltou.
Essa é uma discussão de muitos anos no mundo inteiro, garantiu. Grandes universidades, como as de Harvard, Complutense de Madrid, Massachusetts Institute of Technology (MIT), e algumas brasileiras, vêm discutindo o quanto houve uma defasagem em relação às atividades do ensino superior, de pesquisa e de ensino. “Houve uma supervalorização da pesquisa em detrimento da atividade de ensino”, realçou. “Os resultados estão aí: uma formação de recursos humanos de pior qualidade. O Brasil precisa então ter uma formação com um contingente de RH de todas as áreas do conhecimento muito maior do que tem, muito mais qualificada, não apenas pelas demandas do século 21, mas porque, quando se fala de Brasil, falamos de um continente. A Espanha, por exemplo, tem 47 milhões de pessoas. Só o Estado de São Paulo tem 45 milhões. Assim, falar de Brasil equivale a falar de um continente, de um lugar com grandes diferenças e desigualdades sociais e econômicas”, sublinhou.
Beatriz pontuou que o futuro médico, professor, químico, físico, engenheiro, etc., vai para esse Brasil. “Então é preciso contextualizar qual é hoje o perfil da graduação em nosso país. A Unicamp está muito bem no cenário internacional, contudo precisa avançar não somente do ponto de vista técnico. Essa é uma discussão altamente contemporânea. Visamos formar cidadãos, porque formar um ótimo engenheiro, um excelente músico é importante. Mas formar um ótimo engenheiro e um excelente músico, acompanhado de ótimos cidadãos, é nossa obrigação. É dinheiro público e então devemos prestar contas à sociedade”, destacou.Espera-se, contou ela, que o docente tenha uma qualificação técnica, preparo, que traga essa expertise técnica mas que venha também com uma expertise pedagógica. “E esse é o avanço que a Unicamp está buscando criar. Esses docentes já deviam chegar com essa experiência. Não chegam, porque nenhum mestrado, nenhum doutorado, nenhum pós-doutorado nos forma pedagogicamente”, refletiu. “O (EA)2 busca avançar no sentido de ofertar um curso de modo mais institucional. Hoje temos uma série de atividades de qualificação pedagógica e oferecemos estrutura. Temos um acervo digital o qual qualquer um de nossos colegas pode acessar. São temas centrais do trabalho pedagógico como avaliação, metodologias ativas. Os docentes podem acessá-los de qualquer lugar. Logo esse é um espaço de apoio ao ensino e à aprendizagem através do qual no futuro a Unicamp deve formar excelentes técnicos e cidadãos porque tem excelentes professores, e não excelentes físicos, biólogos, engenheiros. Então é necessário avançar nesse sentido. Isso é para ontem.”