Em um encontro organizado pela Pró-Reitoria de Graduação (PRG) em conjunto com o Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA2) a Unicamp recebeu, em setembro, a visita da professora Liz Reisberg, consultora e especialista em Educação Superior do Boston College (Estados Unidos). O evento contou com a presença de diretores de unidades, coordenadores de graduação e associados e teve como objetivo estimular reflexões e avançar as discussões do programa RenovaGrad, criado com o intuito de aprimorar os currículos dos cursos de graduação da Unicamp.
As atividades e discussões do dia giraram em torno de temas atuais e relevantes para o corpo docente, tais como: qualidade no ensino superior, acesso e equidade e a questão da necessidade de inovação curricular e pedagógica, frente aos desafios que se apresentam junto às novas gerações de estudantes.
Confira a seguir entrevista concedida pela professora Liz Reisberg ao Portal da Unicamp (PU) em que são abordadas as principais questões levantadas durante o encontro.
PU – Quais são as especificidades do perfil dos estudantes universitários atuais?
Liz Reisberg – Hoje, os estudantes são consideravelmente diferentes das gerações anteriores. De início, eles são mais diversos. Mudamos rapidamente de um quadro em que o ensino superior era muito elitizado, para a crescente inserção de uma população muito mais ampla e diversa. E ainda, os estudantes de agora tem suas vidas permeadas pela tecnologia digital com muito mais intensidade que as gerações anteriores, desde tenra infância convivem com celulares, videogames, internet.
PU – Qual o impacto disso no ensino?
Liz Reisberg – As implicações para o ensino são enormes. A maioria dos professores universitários foi educada sem tecnologia e é mais provável que ensine como aprendeu, o que acaba criando um choque de gerações. Para envolver os alunos de hoje, a integração da tecnologia como ferramenta de ensino é essencial. Isso não significa apenas usar o PowerPoint, pois isso, por si só, não significa uma integração tecnológica do ensino. Atualmente, existe um número extraordinário de aplicativos e recursos da Internet que estimulam diferentes tipos de envolvimento e aprendizado dos alunos. Precisamos orientar os professores para que eles possam começar a integrar a tecnologia apropriada para a disciplina que ensinam. Os professores também precisam reconhecer que os alunos de hoje não têm um período longo de atenção, o que faz com que palestras de 90 minutos ou mais sejam muito menos eficazes. Novas estratégias de aprendizagem ativa incentivam os alunos a se envolverem mais, como, por exemplo, a utilização de problemas ou projetos, estimulando trabalhos em equipe.
PU – Como os professores poderiam se desenvolver para resolver estes desafios?
Liz Reisberg – Como mencionado anteriormente, os professores precisarão pesquisar e aprender sobre como os alunos atuais aprendem. Há muita pesquisa de qualidade sendo publicada sobre o assunto e isso deveria orientar o desenvolvimento curricular e as estratégias de ensino. Os professores podem adquirir parte desse conhecimento essencial por conta própria mas, o apoio, treinamento e orientação contínuos serão essenciais. Isso pode vir de um projeto centralizado, composto por especialistas em ensino e aprendizagem, mas também pode ser fornecido por redes informais de professores que poderiam levantar questões e compartilhar experiências entre si.
PU – Como incorporar a promoção de novas habilidades no projeto pedagógico dos cursos?
Liz Reisberg – Os professores precisarão de orientação para fazer isso. Eles também terão que ser pacientes consigo mesmos à medida que desenvolvem novas habilidades. Em geral, é um processo desconfortável – é como aprender um novo idioma e sentir-se constrangido nos estágios iniciais. É bastante difícil para muitos professores que desenvolveram uma certa experiência e confiança na maneira como ensinam. Não é fácil para muitos aceitarem que a mudança é necessária. Também é preciso que a universidade recompense os professores por esse novo esforço. Se a universidade valorizar apenas a produtividade na pesquisa e não a excelência no ensino, a mudança nunca acontecerá.
PU – Em sua experiência, quais sãos os aspectos centrais para a gerência deste processo de inovação curricular?
Liz Reisberg – O que ajuda muito neste aspecto é postura da liderança da universidade, quando deixa claro que se trata de um objetivo institucional e encontra maneiras de reconhecer o progresso e o esforço por meio de prêmios, reconhecimento nas mídias sociais, eventos especiais etc. Existem alguns bons estudos que mostram que os alunos aprendem mais quando possuem professores que utilizam técnicas da aprendizagem ativa. Esses dados podem ser muito úteis para apresentar aos professores a importância e o valor desta mudança cultural. Os alunos também precisam ser envolvidos nesse processo. Construir fóruns informais em que os estudantes e professores se encontram e trocam feedback pode ser extremamente valioso.